Andando de Bicicleta- Reflexões sobre a Vida


Inicialmente, já vou me desculpando: escrever não é meu forte, sei disso.
Mas, não sei se por causa do aniversário, ou mesmo dos anos de vida, senti a necessidade de verbalizar algumas coisas.


Quando olho minha vida em retrospecto, como costumo fazer em certas datas, me pergunto sempre se consegui o que queria.
E, estarrecedor como possa parecer, até para mim mesma, a resposta é sim.
Não tudo, mas o que queria. Não é uma quantidade, é uma qualidade.

O que, absolutamente, não significa que não tenha fracassado. Fracassei, e muito. Na verdade, acho que nunca tirei a sorte grande; nunca consegui, de primeira, alguma coisa.
Nem naquilo que de mim dependia, nem dos outros, nem das circunstâncias.
Sempre, tudo, foi muito difícil.
De parar de fumar - vezes incontáveis, como Sísifo, tentando e voltando a tentar- ao condicionamento físico, ao parceiro, aos empregos, aos trabalhos, aos amigos, a andar de bicicleta.

Aliás, o exemplo da bicicleta ilustra muito bem o que estou querendo dizer: da primeira vez que, efetivamente, saí andando, sem rodinhas e sem ninguém me sustentando - é uma sensação maravilhosa de vitória, não?- uma criança mais jovem se atravessou na minha frente, eu desgovernei, perdi a direção e... caí!!! quebrei a perna. Estávamos em Poços de Caldas, tivemos que voltar, o gesso foi mal colocado, tudo doía. Chorei: BUÁAAAA!

Então... o que se passou posteriormente?
Tirei o gesso e pedi uma bicicleta, de presente de aniversário.
Ganhei. Uma merda total chamada Monareta, da Monark.
Quem se lembra? duas ínfimas rodinhas, pés no chão, pais temerosos que eu caísse e me arrebentasse toda, desta vez.
Lógico está que eu não conseguia pedalar acompanhando as amigas, todas de aro 26.
Então, esqueci o assunto. Frustrei. Fui andar de patins (era exímia). Por anos.
Como dizia a musiquinha infantil:
"O tempo correu a passar/ a passar/ a passar..."
Até que comprei, muitos anos depois, uma bicicleta de verdade. Por minha conta e risco. E, para meu espanto, saí andando.
Como diz o popular: "Ninguém desaprende de andar de bicicleta".

Quem não tenta, não consegue.
Há os que não caem?
Claro.

Não estou dizendo que as pessoas devam ser azaradas, para conseguirem as coisas. Ou que o esforço é a base do êxito. Ao contrário, se todos tiverem muita sorte, melhor.
Mas, há os que não se levantam da primeira queda, não tentam de novo; se quedam- mesmo - ali, ficam envergonhados, achando que a vida dos outros é só sucessos e a delas, fracasso.
Que teriam que ter nascido "o outro" para conseguir suas metas.

Há os que se afogam no pântano estéril da inveja. E só.
Há os que tentam destruir o sucesso alheio, pois lhes é insuportável.

Mas, voltemos à vaca fria, no caso a bicicleta, ou à minha teimosia.

Eu, hoje, fiquei me perguntando o que me leva a insistir. Porque, convenhamos, eu tenho esta característica básica: a persistência.
Que, dependendo das circunstâncias, pode parecer tola ou insuportável, para quem está do lado. "Mas você é assim mesmo, nada vai mudar, porque não desiste"?

Acho que tenho uma enorme cara-de-pau.
Que se manifesta, exteriormente, na ausência de medo de errar. Não que eu ache que vá acertar sempre. Eu não acho, muito pelo contrário: na maioria das vezes eu erro mesmo.
Eu não tenho é o medo. Errei, errei, que qui tem?

"Como pode não ter medo de errar"? Vocês sabem quantas vezes eu ouvi esta pergunta dos meus alunos? Por 20 anos?
Incontáveis.

Tem pessoas que acreditam, firmemente, que se apertarem o lápis sobre o papel e derem um traço, este vai gritar; que o computador morde de volta.

Não adianta dizer: é só um papel; ou: é só uma máquina; ou: é só uma tela.
Não adianta você, como Professora, jurar que não vai dar nota baixa, que todos já passaram com  10 (dez).
Eu até isso cheguei a fazer, desesperada diante de tanto pavor: inútil tentativa. Pessoas inseguras não acreditam na Professora e tem medo dela, igualmente. A Professora simplesmente não pode ser boa, elas merecem punição.
É tudo psicológico. Interno. Mecanismo da psique. Mesmo.

Então... o que faz alguns tocarem pra frente, depois ou apesar dos erros e das quedas, e outros não?

Acho que eu vou ter que pedir emprestado à autora do Harry Potter- altas literaturas, bicho! sorry...- a figura de linguagem.
Ela explica, logo no primeiro livro da série, que o que diferencia o Harry, órfão desde pequenininho e o torna um herói, já bebezinho, e o leva a sobreviver aos ataques do Bruxo do Mal (o você-sabe-quem) é o o escudo em torno dele. E este escudo é composto pelo amor que ele havia recebido na infância, principalmente da mãe. Na saga, aliás, ela o protege, literalmente, com o corpo. E morre, dá a vida por ele. Ela é, realmente, a personificação de um escudo.

Não sejamos tão literais, por favor... tadinhas das mamães.
Digamos que o legado de simbólico de alguém, para o herói ou heroína -por vezes nem tão mágico/radical-  poderia manifestar-se na fé inabalável de que se espera dele(a) um pulo no desconhecido, e que mesmo que possa se estabacar, morrer disso não vai, já que existe, e sempre existirá, uma rede protetora, para amortecer a queda.

Belíssimo.


Ninguém mata dentro do herói a criatividade, a esperança ou a vontade de vencer exteriormente.
Ou vice-versa.
Ele morre de morte morrida, não de morte matada.


No meu caso específico, nesta saga brasileiro-pagã/trópico-descabelada, encontrei inúmeras vezes,  poderosos Bruxos(as) do Mal; e também Mágicos Maravilhosos e Feiticeiras, que repetiram o afetivo e protetor gesto materno.
Literal e simbolicamente.

A todos eles(as)- Du Bem e Du Mal-  vivos(as) e mortos(as), nesta data, meu muito obrigado.
Por ajudarem esta DW nas suas incontáveis tentativas de tornar-se uma pessoa inteira.

Sem defesas contra as balas perdidas do Rio de Janeiro, já que não é mágica.
Que, humanamente, tem medo de arrastão, vertigem de altura e pavor de aranha caranguejeira.
E nem escreve tão bem.
Mas, sabe andar de bicicleta.

Ninguém é perfeito.

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